É muito frequente nas consultas de Pediatria, principalmente com os bebés mais pequeninos, que os pais se preocupem com a regularidade com que o bebé faz cocó. Ainda mais nos primeiros 3 meses de vida, em que tudo parece um turbilhão, há as cólicas, o refluxo... a insegurança e o receio de deixar escapar alguma doença no bebé...
O que é facto é que cada bebé tem um ritmo de funcionamento do seu intestino, mas este, para além de muitas vezes se alterar ao longo do crescimento, depende ainda de muitas outras coisas, quer do tipo de alimentação que o bebé está a fazer, quer de alguns outros factores que por vezes não conseguimos controlar.
Há a "falsa" ideia de que só por um bebé não fazer cocó todos os dias, tem "prisão de ventre". Ora, não é tão simples assim. Por exemplo, para bebés em aleitamento materno exclusivo, pode ser tão normal fazer 8 cocós por dia (habitualmente 1 cocó depois de cada mamada) como 1 cocó a cada 3 dias... sendo que normalmente não precisamos de nos preocupar em qualquer das situações se o cocó é um cocó mole/pastoso, amarelado mais frequentemente, e o bebé está a crescer bem. O problema, é que quando o bebé não faz assim cocó tão frequentemente, e ainda por cima tem cólicas (que ainda ninguém conseguiu identificar claramente o mecanismo das mesmas), o que fazemos instintivamente é associar essa menor frequência dos cocós às cólicas... e nenhuma mãe ou pai gosta de ver o seu bebé a chorar desalmadamente sem conseguir fazer nada a esse respeito, obviamente. Mas o certo é que, na maioria das situações, quando o cocó permanece mole mesmo que a frequência seja menor, é apenas uma questão do ritmo próprio do intestino do bebé.
Existe ainda uma outra particularidade que convém abordar. E diz respeito ao "amadurecimento" desse processo fisiológico que é o fazer cocó. Para nós parece tudo fácil, afinal, é um processo natural, não é assim? Mas para os pequenos bebés, é por vezes ainda um processo em aprendizagem. Alguns bebés ainda estão a aprender como se "relaxam" os músculos da zona em redor do ânus, para permitir a saída do cocó... e nessa situação (não sei se se identificam com isto), os bebés ficam muito, muito vermelhos, de tentar fazer força contra uma musculatura que não está relaxada, e choram, por vezes mais de 10 minutos seguidos... e, na tentativa de melhorar a situação, muitos pais utilizam a estimulação retal, ou até microclisteres, mas essa utilização neste tipo de contexto pode não ser nada benéfica. Isto porque, por um lado, uma estimulação pode causar localmente algum tipo de ferida, e por outro lado, de certa forma pode provocar uma "confusão" na cabeça do bebé, interferindo com a aprendizagem que ele tem de fazer de como se faz cocó.
Por vezes não é fácil. Mas é uma preocupação muito comum dos pais, e é importante que o profissional de saúde que segue a criança consiga, após fazer uma avaliação cuidada da situação, ajudar a compreender todos estes mecanismos, pois é todo um "admirável mundo novo", para pais e bebés.
Bom fim de semana, pais e bebés :)
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